Não posso deixar de transcrever um excerto de um texto posto na Rede pela "Animal", que retrata de forma exemplar, a forma absurda como ultimamente a SIC em particular, e as restantes estações em geral, primam por ser um bastião dos "adoradores da tortura animal". "longe vão os tempos de Emídio Rangel" diz bem o texto que se segue...
Na rubrica “Perdidos e Achados” do “Jornal de Noite” do Sábado passado, a SIC retomou o tema “Barrancos e as Touradas”, para rever a sucessão de acontecimentos desde que o chamado “caso Barrancos” começou até aos dias de hoje. Nessa reportagem, que deveria ter sido o mais imparcial possível, além de ter sido dado 80% a 90% do tempo aos barranquenhos e apenas 10% a 20% do tempo aos defensores dos direitos dos animais, a reportagem foi mais longe, transmitindo, implicitamente, a mensagem de que o povo de Barrancos, de forma supostamente heróica, violou a lei e ameaçou as autoridades repetidamente até que o Presidente da República, o Governo e o Parlamento vieram, em 2002, legalizar as touradas de morte, mostrando que o crime compensa. A mesma reportagem transmitiu a ideia de que o povo de Barrancos teria saído vitorioso de uma disputa política com os defensores dos direitos dos animais, que teriam fracassado, infere-se da mesma reportagem televisiva. Na verdade, esse mesmo povo, embriagado pelo seu afastamento do progresso e pela ignorância dele decorrente, saiu perdedor dessa contenda moral, pois colocou-se do lado do primitivismo, para defender o seu direito a perseguir, torturar e matar 5 a 6 animais inocentes por ano, fazendo-o em público, sob a forma de espectáculo, ligando-se, assim, cada vez mais, com o seu lado ostensivamente primário e sanguinário, que o Estado ajudou a cultivar, através de um exercício público de cobardia política, ao dar àquele povo o direito de se manter inculto, ignorante e, pior do que tudo, viciado no mórbido gosto de violentar e de retirar prazer de assistir a essa violência. Portugal perdeu também, nesse episódio, mas quem perdeu realmente foram, como sempre, os animais. Os defensores dos animais não perderam, claro está, porque nem são eles que são torturados e violentados nas touradas de Barrancos como também não são eles que ficam reféns da ignorância e do subdesenvolvimento que presidiram a todo aquele escândalo. Os defensores dos animais souberam, então, como sabem hoje, que a luta cívica e política pelos direitos dos animais é uma dura luta pelos direitos fundamentais de indivíduos que não se podem representar a si mesmos, uma luta que se faz contra os maus hábitos dos povos, contra o obscurantismo, contra a rudeza e o gosto pelo sangue e pelo sofrimento, contra o provincianismo bacoco e contra a tendência para a rejeição do, e reacção ao, progresso e ao apuramento ético das sociedades humanas. Infelizmente, a reportagem da SIC documentou e transmitiu o contrário disto, permitindo que se pense, depois daquela reportagem, que Barrancos ganhou e que aquilo que ganhou terá valido a pena. Não foi sequer aflorada a hipótese daquelas pessoas, que tão realizadas se declararam por nada mais terem conseguido do que a permissão legislativa para torturarem e matarem animais, não terem a informação e o distanciamento suficientes para compreenderem tudo o que de mal defendem, praticam e ambicionam poder manter, contra tudo e contra todos. Mais lamentável é notar que a SIC, com esta reportagem, ajudou os barranquenhos a afundarem-se ainda mais em todo este triste enredo, glorificando-o, ironicamente.