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A multidão amontoava-se aos gritos em uma monumental arquibancada circular. No centro desfilava aquilo que lhes davam o prazer de enlouquecer através de gritos de “olé” em mil urras. Dois personagens rodeados por milhares de insanos homens e mulheres: um sem desejar estar lá de nada podia fazer senão contracenar com o outro que deliberadamente pisava com suas botas de couro na areia do inferno.
Um deles chegava a quase uma tonelada, esbaforindo e de chifres exuberantes e pontiagudos, corpo negro como as trevas e cascos como o do diabo. O outro um frágil verme que se equilibrava sobre dois pés, ocultava sua pele fina e frágil como manteiga por debaixo de sedas adornadas em filigranas. O touro, de um lado, exibia uma inaudita potência em nome de sua própria vida; e um insano depreciador da vida, de outro lado, exibia seu câncer em nome da sua consciência de infindáveis idéias. O touro não carregava nada além de sua própria vida, o insano carregava suas bandarilhas e um pedaço de tecido vermelho.
No confronto o animal foi ferido, esgotado através de vários olés, esbaforido, sangrando e suando, ainda defendia com todo o seu sangue e força a sua sobrevivência: lutava pela vida diante de um covarde que lutava pela morte. Seu corpo de puro músculo e potência já se mostrava em derrocada com o acúmulo de lanças que o lancinavam profundamente.
Um gesto faz explodir a platéia em um vulcão de vozes que derramava em círculo: o insano retira sua espada, dará o golpe mortal. Agonizante, o touro se prepara com suas últimas forças, um gesto em busca de vida. Silêncio ensurdecedor. Touro e insano irão para o último confronto. Uma fagulha de tempo e lá estava o sangue derramado marcando a areia. As vísceras rompiam e perdiam-se em pedaços. Incontáveis olhos assistiam aquela cena.
O insano fora atravessado pelo chifre do touro que agora brilhava sua ponta lustrada com a gordura de um verme. O touro resistia bravamente seu corpo vincado por oito pontas que faziam escorrer a sua vida através de um líquido negro-escarlate. Mas antes esvaziava pela arena as míseras entranhas daquele que foi rasgado como seda por um único golpe: aquele que até então se equilibrava sobre dois pés, exibindo bravura e coragem, galanteios e luxo, virilidade e sedução a toda uma platéia de imbecis, já não passava de uma porção de músculos inertes, vísceras, ossos e tegumentos que iam escorrendo enquanto desfilava em um rabecão preparado pelo diabo: eis que finalmente o touro tomba, ainda respirando languidamente seus últimos minutos de vida.
Uma nuvem de silêncio vinha à tona nos milhares de insanos da platéia, a covardia e a fraqueza foram retratadas em mais uma de suas variadas formas, todas pintadas por depreciadores da vida que andam sobre dois pés.
Nota: a covardia dos toureiros chega a tal ponto que o animal tem os cornos embolados, desse modo fica praticamente raro ocorrer o retratado nesse conto; os sacrifícios ficam sempre aos touros, e o toureiro quando muito é ferido por choques ou pisoteamentos, raramente fatais. O que está posto é um toureiro que tem toda proteção possível diante de um touro totalmente desprovido de proteção e dignidade, não se trata de uma disputa entre toureiro-touro, mas sim um ritual onde o prazer está no sacrifício lento do animal enquanto o dinheiro é movimentado rapidamente e em cifras vultuosas. Não foi o pretendido nesse texto de ficção, porém com elementos da realidade, dizer que os toureiros devem morrer da forma aqui retratada. O ideal, certamente, era que esse tipo de prática não existisse. Todavia, as touradas persistem, sendo países como Espanha, Portugal, França e México os que historicamente comportam esses rituais de barbárie da civilização, inclusive com apoios de políticos.